As operações logísticas são cruciais para manter a cadeia de abastecimento. Encontrar formas de minimizar os riscos e obter melhores resultados para a empresa, bem como garantir que os produtos cheguem intactos a todas as regiões do país é um grande desafio. E quando falamos de transporte o primeiro modal que vem à cabeça da maioria das pessoas é o rodoviário. No entanto, a cabotagem, por seus benefícios, é algo que merece ser olhado com bastante atenção quando falamos de planejamento logístico. Afinal, o Brasil possui mais de 8,5 mil quilômetros de costa navegável, o que por si só já é um facilitador.
Talvez o conceito não seja mais tão novidade para quem está à frente das operações logísticas. Em linhas gerais é o transporte de cargas por mar, na costa brasileira. Porém, se questionarmos grande parte dessas pessoas sobre como funciona um serviço de cabotagem,talvez muitas não saibam exatamente como responder.
Antes de tudo, é preciso ressaltar que os tipos de navios e a forma como cada segmento pode operar na cabotagem são bem diversificados.Existem os navios graneleiros; os dedicados ao transporte de carga solta e de grandes dimensões, conhecidos como Break Bulks; aqueles que exclusivamente fazem o transporte de granéis líquidos, como petróleo, por exemplo; navios específicos para transportar veículos, entre outros.
A minha ideia aqui é explorar sobre as operações dos navios porta-contêineres utilizados pela grande maioria das indústrias. Esta modalidade de transporte cresceu de forma sustentada a taxa média de 13% a.a na ultima década, fazendo com que o volume total transportado triplicasse em 10 anos. Como referência, no mesmo período, o PIB real brasileiro cresceu na ordem de 1,4% a.a.
Esses números demostram, sem dúvida, o quanto o modal é eficiente e versátil para atender os mais diversos segmentos industriais. Se pensarmos nas mercadorias que consumimos todos os dias em nossas casas, no tamanho e no espaço físico que elas ocupam , podemos afirmar que cerca de 90% do que é produzido hoje no Brasil, conseguimos transportar em navios, dentro dos contêineres. Isso inclui qualquer tipo de produto, desde os que são cruciais para abastecer a população, como os que estão dentro da categoria alimentos e bebidas, inclusive refrigerados, até itens pertencentes a um segmento um pouco mais complexo, como o químico e de cargas perigosas.
Fazendo uma analogia: a cabotagem funciona da mesma forma que uma linha de ônibus regular, com dia e hora para atracar em cada um dos portos. O navio faz um circuito fechado e sempre sai e retorna para um mesmo ponto. Previsibilidade é a palavra de ordem.
Para exemplificar nada melhor do que fatos e usarei como modelo uma linha que conheço bem. O circuito começa a operação em Pecém, que é o terminal portuário da costa do Nordeste Brasileiro, próximo a Fortaleza (CE); segue para Salvador (BA); passa por Santos (SP); de lá vai para Itajaí (SC) e chega a Buenos Aires (Argentina). E depois ele volta, passa em Rio Grande (RS); Santa Catarina e Santos novamente, vai direto para Suape (PE) e volta a Pecém. Esse circuito leva 28 dias para ser concluído e demanda quatro navios. Mas, por quê?
A resposta é simples: como queremos “estar” em cada um desses portos uma vez por semana, é preciso ter várias embarcações para fazer essa rotação. É como se se fizesse um círculo e se colocasse um navio equidistante do outro, rodando no mesmo sentido, com sete dias de diferença um do outro.
Mas, e se quero levar uma carga de Buenos Aires para Manaus e esse serviço só vai até Pecém? Aí a analogia é com uma conexão de um avião. Coletamos um contêiner em Buenos Aires e descemos em um dos terminais no Brasil que tenha conexão um dos outros três serviços que ofertamos. Neste caso, quanto um navio do Serviço Amazonas que liga o sul do Brasil à Manaus passa pelo terminal portuário, colocamos o contêiner originalmente da Argentina em outra embarcação e a mercadoria segue viagem, com a mesma previsibilidade e dentro do prazo acordado no agendamento. É a mesma ideia do ônibus e do avião: têm pontos em que passageiros (cargas) descem e em outros eles apenas sobem, mas em alguns acontecem os dois movimentos. O que se repete em todos os portos. A conexão é imperceptível para o cliente, afinal o que importa a ele é que sua carga chegue intacta. Aliás, esta é outra vantagem da cabotagem.
Tem outra dúvida que sempre surge: se o navio passa uma vez por semana e a indústria precisa expedir mercadorias diariamente, como fazemos? É nessa hora que o know-how de operador logístico faz a diferença e entra em cena o time de atendimento, que apoia o cliente em seu planejamento logístico e que programa as coletas, de acordo com a necessidade de cada um, sem interrupção e com hora marcada. Em seguida, o caminhão que coletou a carga já acondicionada no contêiner vai até o terminal portuário e faz o depósito de toda a mercadoria. Agora, imagina isso acontecendo em diversos clientes inúmeras vezes ao dia? É por isso que é possível observar aquelas pilhas de contêineres nos portos.
E outra caraterística da cabotagem, bastante interessante, são os períodos “free” nos terminais de destino (sem custo), que podem variar entre sete e 15 dias. Isto ajuda o cliente a se planejar no recebimento e evitar custos adicionais com estadias. Isso é bastante vantajoso, na medida em que, a maioria dos clientes não quer e nem precisa receber no mesmo dia todos os contêineres, de acordo com seu planejamento logístico. Eles ficam no porto, depositados, a Central de Atendimento novamente entra em ação e liga para cada um deles, e faz o agendamento de entrega, de acordo com prioridades e disponibilidade para recebimento. Tudo muito planejado, funcionando como uma esteira produtiva.
Enfim, a previsibilidade é sem dúvida um fator marcante quando o assunto é cabotagem e que coloca o transporte rodoviário em bastante desvantagem. No momento zero, quando se programa a carga, o recebedor já sabe exatamente quando ele terá suas mercadorias. De tão simples acaba parecendo complicado, mas certamente é bem mais eficiente do se que imagina.
* Mauricio Alvarenga, diretor comercial da Log-In Logística Intermodal
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