Seca na Amazônia evidencia a importância de investir em infraestrutura hidrdoviária

Matéria publicada no Jornal Valor Econômico mostra a importância do planejamento para se evitar uma nova crise na Amazônia, por conta da estiagem que sempre acontece no segundo semestre.

Seca na Amazônia evidencia a importância de investir em infraestrutura hidrdoviária

 

A região, que é a segunda mais importante para o setor de cabotagem no Brasil, sofre com a falta de obras que garantam a navegação comercial durante todo o ano

 

Todos os anos, a partir de agosto, começa o período de seca na região amazônica. Ele se estende ao longo do segundo semestre e dificulta o acesso a água potável, prejudica a atividade de pesca e estrangula a logística da região. Em 2023, uma combinação de fatores, incluindo o fenômeno El Niño e as mudanças climáticas, provocou uma seca mais rigorosa.

Seus impactos ainda são sentidos. “O nível dos rios, neste primeiro semestre de 2024, permanece em geral mais baixo do que um ano atrás, o que significa que possivelmente este será mais um ano de crise”, afirma Luis Fernando Resano, diretor executivo da Associação Brasileira de Armadores de Cabotagem (ABAC), uma entidade fundada há 51 anos com o objetivo de contribuir para a expansão do setor.

Crise contínua

Quando os principais rios da Amazônia perdem água, os navios utilizados no setor, com capacidade para transportar até 3 mil contêineres cada, encontram dificuldade para acessar o principal porto da região (Manaus). A solução passa ser distribuir a carga em balsas menores, que em geral carregam pouco mais do que 100 contêineres.

“A logística fica mais demorada e mais cara, com prejuízo direto para a vida da população de cidades como Manaus, que é o segundo maior porto em movimentação para a cabotagem no Brasil”, detalha Resano. A indústria da região fica prejudicada, assim como o acesso a bens de consumo essenciais, já que as opções de deslocamento por terra esbarram na má qualidade das rodovias.

“Uma série de insumos, de cimento a medicamentos, chega à capital do Amazonas por navio”, exemplifica o diretor executivo da ABAC. O momento exige ações urgentes e estruturais, ele argumenta: “É preciso fazer obras de dragagem antes da seca. Não basta apenas mover a areia do leito dos rios”.

Apoio para a indústria

Por sua vez, Luiz Augusto Barreto Rocha, empresário e presidente do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (CIEAM), comenta: “A indústria da região é muito menor do que poderia. A falta de infraestrutura compromete o avanço e a estabilidade do setor. Temos um polo relevante na Zona Franca de Manaus, que atua sem prejudicar a floresta. Mas apenas 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB) da região é investido em infraestrutura. É menos do que o necessário para manter o estoque atual”.

Para Rocha, a cabotagem atua como uma alavanca importante para o desenvolvimento da região, mas poderia atuar de forma ainda mais decisiva. “Os rios da Amazônia são navegáveis, mas não são hidrovias. Falta ação do poder público para manter os leitos num nível aceitável, falta batimetria, dragagem de partes do rio, criação de infraestrutura”, declara.

“Em Manaus somos muito bem servidos pela cabotagem, que nos conecta com os principais portos do Brasil. Essa atividade proporciona uma robustez na logística, tanto para importação quanto para exportação”, diz Claudomiro Carvalho, empresário e presidente da Associação Brasileira de Desenvolvimento da Navegação Interior (Abani). “A importância da cabotagem para o desenvolvimento amazônico é enorme, sem ela não seríamos tão competitivos”.

Em sua avaliação, o que falta, tanto para a cabotagem quanto para a navegação interior, é investimento em infraestrutura – e também ordenamento governamental. “Precisamos entender melhor quem zela pelas normas de atuação, quem tem responsabilidade sobre os investimentos”.

Setor estratégico

A situação vivenciada na Amazônia exemplifica a importância da cabotagem para a economia nacional. A navegação de cabotagem é a melhor alternativa para centenas de produtos, de helicópteros a televisão, de pás eólicas a biocombustíveis, de minério e grãos a vestuário.

Anualmente são movimentados mais de 1 milhão de contêiner de 20 pés, em vários segmentos, e mais de mais 2,5 milhões de toneladas em cargas de químicos, petroquímicos e biocombustíveis, entre os portos brasileiros.

O setor se diferencia pela previsibilidade de entrega, pelo baixo risco de avarias e roubos, com consequente redução de custos logísticos, apoiada pelo manejo adequado e seguro das cargas. É ambientalmente sustentável, já que emite 4 vezes menos gases poluentes, se comparado aos demais modais de transporte, e causa menos acidentes ambientais, com maior controle e responsabilização.

Ao longo dos últimos anos, a movimentação total vem aumentando: eram 423,8 mil TEUS (medida equivalente a um contêiner de 20 pés) em 2011 e chegou a mais de 1,2 milhão em 2023. Mas o alcance do setor pode ser ainda maior. De acordo com um levantamento realizado pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) em 2019, o Brasil utiliza, para transporte comercial de cargas e passageiros, 19 mil quilômetros dos 63 mil quilômetros navegáveis de rios – o equivalente a apenas 30,9% do total.

O governo federal vem trabalhando no projeto BR dos Rios, que tem por objetivo incentivar a navegação nos rios brasileiros, por onde passam atualmente apenas 5% do total de cargas do país – a meta inicial é alcançar 8% até 2035. “Temos pressionado o poder público em prol da realização de ações coordenadas”, declara Luis Fernando Resano. “O setor de cabotagem está preparado para aumentar sua contribuição para a economia nacional”.

 

 

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