O modal marítimo é peça-chave para a competitividade do agronegócio brasileiro. Nossas safras recordes de grãos, a potência na produção de carnes e a crescente participação da celulose no mercado global comprovam a força do campo nacional.
No entanto, para que essa riqueza produzida em solo brasileiro alcance o mundo, é essencial contar com um sistema logístico eficiente — e é aí que o transporte por navios assume papel de protagonismo.
Mas como podemos otimizar essa jornada complexa, que se estende da fazenda até o navio? Este artigo vai falar da importância estratégica do transporte marítimo para o agronegócio, analisar os gargalos logísticos que ainda desafiam o setor e discutir as políticas públicas que podem fortalecer, de forma decisiva, essa integração vital.
O transporte marítimo é o parceiro indispensável do agronegócio brasileiro, especialmente quando falamos em exportação.
A capacidade de movimentar grandes volumes de mercadorias a um custo unitário mais baixo o torna insuperável para o escoamento da nossa vasta produção agrícola. Sem ele, seria praticamente impossível levar nossos produtos a mercados distantes como China, Europa e Estados Unidos.
Além disso, para otimizar as viagens de longo curso, o modal marítimo utiliza a cabotagem para concentrar cargas em portos de maior capacidade, através do serviço conhecido como feeder.
No contexto do agronegócio e da logística marítima, o feeder desempenha um papel importante. Trata-se de um serviço de transporte marítimo de curta distância, que opera com navios menores, chamados de navios feeders.
A principal atribuição desses navios é coletar cargas em portos menores ou menos movimentados e levá-las para grandes terminais portuários, onde serão transbordadas para navios maiores, que realizam as viagens oceânicas de longo curso. Em outras palavras, o feeder atua como um “alimentador” dos grandes navios.
A cabotagem no Brasil contribui de forma significativa para esse processo. Ao invés de as cargas percorrerem longas distâncias por rodovias até os portos principais, a cabotagem permite que a produção agrícola (em grãos, produtos embalados ou outras formas) seja movimentada entre os portos brasileiros de forma mais eficiente e econômica.
Por exemplo, uma carga de celulose produzida no sul do país pode ser levada de navio de cabotagem até um porto no sudeste, onde se une a outras cargas para um navio de exportação. Isso não só reduz custos, mas também desafoga as rodovias e diminui a emissão de poluentes.
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O Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de commodities agrícolas do mundo. Soja, milho, açúcar, café e celulose são apenas alguns exemplos. O modal marítimo é o único que consegue transportar os enormes volumes dessas commodities de forma economicamente viável.
Seria impensável escoar milhões de toneladas de soja por caminhões através do país, por exemplo.
Pense nos navios graneleiros: verdadeiros gigantes dos mares, são carregados com milhões de toneladas de grãos. Esses navios são a espinha dorsal da nossa exportação agrícola, conectando as fazendas do centro-oeste aos consumidores globais.
Já a celulose, outro produto de exportação relevante, é transportada em fardos ou contêineres, chegando a mercados exigentes na Ásia e Europa graças à capacidade de carga dos navios.
Sem o transporte marítimo em larga escala, a competitividade do nosso agronegócio seria severamente comprometida.
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Apesar da importância do modal marítimo, a jornada da carga da fazenda ao navio não é isenta de desafios.
O Brasil, um país de dimensões continentais, enfrenta gargalos logísticos que impactam diretamente a competitividade do agronegócio.
Um dos maiores problemas é a excessiva dependência de caminhões para levar a produção das fazendas, muitas vezes localizadas no interior do país, até os portos no litoral.
Embora a rodovia seja essencial para as “pontas” da operação (o transporte de curta distância), o uso massivo para longas distâncias encarece o frete, aumenta o tempo de trânsito e gera congestionamentos nas estradas e acessos portuários. Isso resulta no que chamamos de “custo Brasil”.
A baixa integração com outros modais, como trens e barcaças, é outro ponto crítico. Ferrovias e hidrovias seriam muito mais eficientes e baratas para o transporte de grandes volumes em longas distâncias.
A subutilização desses modais cria uma ineficiência que se reflete no custo final do produto, afetando nossa capacidade de competir no mercado global.
Imagine um trem que transporta uma safra inteira diretamente de uma região produtora para o porto, em vez de centenas de caminhões. É uma diferença brutal em termos de eficiência e sustentabilidade.
Os problemas de infraestrutura nas vias de acesso aos grandes portos brasileiros também são um entrave. Rodovias com poucas faixas, sinalização precária, pedágios excessivos e falta de áreas de espera para caminhões geram filas intermináveis e atrasos significativos, especialmente durante o pico da safra.
Esse cenário não apenas aumenta os custos para os produtores, mas também compromete a pontualidade dos embarques e a reputação do país como um fornecedor confiável.
Superar esses gargalos exige um esforço conjunto de setores público e privado, com a implementação de políticas públicas que promovam uma logística mais inteligente e integrada.
É fundamental que o governo crie incentivos à multimodalidade. Isso significa desenvolver políticas que estimulem o uso de ferrovias e hidrovias para o transporte de longa distância de cargas agrícolas.
A ideia é que o caminhão seja utilizado para as “pontas” da operação – o chamado short-haul –, conectando a fazenda ao terminal ferroviário ou hidroviário mais próximo.
Programas de subsídio para o uso desses modais, linhas de crédito para investimentos em infraestrutura e a desburocratização de processos podem acelerar essa transição.
São necessários investimentos sólidos, públicos e privados, na modernização de estradas, ferrovias e portos que formam os principais corredores de escoamento da produção agrícola.
Isso inclui duplicar rodovias, construir ou expandir linhas férreas que cheguem aos portos, aprofundar canais de navegação em hidrovias e modernizar a infraestrutura portuária (terminais, equipamentos, armazenagem).
Esses investimentos estratégicos são a chave para reduzir o tempo de trânsito, aumentar a capacidade de escoamento e diminuir os custos operacionais.
A cabotagem também tem um papel essencial na otimização da logística do agronegócio. Ela pode ser amplamente utilizada para transportar insumos agrícolas, como fertilizantes, defensivos e máquinas, que chegam ao Brasil por navios de longo curso nos grandes portos.
Em vez de esses insumos seguirem por longas distâncias rodoviárias até as regiões produtoras, a cabotagem pode levá-los dos portos para outras localidades costeiras, mais próximas das fazendas.
Essa otimização na logística de back-haul (o retorno do navio com carga) e de ponta a ponta pode gerar economias significativas e melhorar a eficiência da cadeia de suprimentos do agro.
A força do agronegócio brasileiro no cenário mundial é inquestionável. No entanto, sua sustentabilidade e crescimento futuro dependem não apenas da produtividade no campo, mas também de uma logística de transporte eficiente.
Superar os gargalos existentes entre as áreas produtoras e os portos, com políticas públicas que promovam a integração de modais e o investimento em infraestrutura, é o caminho para reduzir custos, aumentar a competitividade e garantir que o modal marítimo cumpra seu papel estratégico com excelência.
Investir no modal marítimo, com o apoio da cabotagem e a integração multimodal, não é apenas uma opção, mas uma necessidade urgente para o Brasil. É a solução lógica, eficiente e transformadora que precisamos redescobrir para impulsionar a economia, fortalecer nossa soberania e garantir que a riqueza do campo brasileiro continue navegando rumo ao sucesso global.
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