Desde a antiguidade o mar representa uma possibilidade de desenvolver a economia. Ao permitir o transporte de bens que geram o progresso e, por consequência, a sobrevivência do ser humano, o mar sempre possuiu enorme importância estratégica.
O mar é também um espaço de descoberta, de trabalho, de negócio e de lazer. Sua importância reside no valor econômico para os países de turismo litorâneo. Ele é fonte de energias renováveis, mantém um grande estoque de alimentos, concentra um número imenso de espécies e constitui-se em uma infraestrutura natural dos corredores de tráfego do transporte marítimo. Finalmente, o mar é ainda fonte de valores culturais, artísticos, estéticos, científicos e até espirituais. No entanto, nossa mentalidade com relação a esse importante recurso é ainda pouco prática, especialmente no Brasil, detentor do 16º maior litoral do mundo.
Possuímos uma extensão marítima de, aproximadamente, 3,6 milhões de km², onde circulam 95% do nosso comércio exterior e são extraídos 91% do petróleo e 73% do gás natural que são produzidos aqui. Uma verdadeira fonte inestimável de recursos naturais como petróleo, jazidas minerais e pescado. Toda essa pujança acabou cunhando o termo de “Amazônia Azul”, tão vasta quanto a outra Amazônia, a verde, e que está tão ou mais ameaçada do que a floresta, sem que saibamos sequer o que existe abaixo de sua superfície.
A comparação segue além das dimensões. Ainda pouco explorado – se compararmos com países de visão mais marítima, como Inglaterra, Holanda e Portugal -, o potencial econômico do mar brasileiro representa muito mais do que somente um repositório de matéria-prima para o país, sendo suas águas o nosso elo com o restante do planeta.
Não temos dúvida de que a nova fronteira econômica está nos mares. Mais especificamente na chamada “economia azul”, um conceito que oferece uma visão do mar e costa como uma nova fonte de crescimento econômico, criação de emprego e de investimento, mas com o uso inteligente e sustentável dos seus recursos naturais – seu espectro é amplo e abrange diversos setores, tais como a pesca, o turismo, o transporte marítimo, as energias marinhas, a biotecnologia marítima, a construção naval, entre outros.
Recentes políticas europeias já vêm revelando o enorme esforço feito na valorização dos mares e zonas costeiras da Europa para a criação de emprego, valor e sustentabilidade, por meio de práticas de gestão que levam em conta a perspectiva do setor privado, sem perder de vista as necessidades de conservação. E o Brasil não pode ficar atrás nesse movimento. Devemos olhar para o mar e, com isso, adicionar novos vetores de desenvolvimento à nossa economia.
Essa tomada de consciência traz consigo novas oportunidades. Temos, por exemplo, um sistema baseado preponderantemente no transporte rodoviário, poluente, com partes consideráveis de nossas estradas em péssimas condições. A redução drástica dos investimentos no setor ferroviário (desde a década de 1950) levou ao fechamento de ramais pouco lucrativos, desestruturando a malha. Por outro lado, somos um país com uma costa navegável de 7.500 km de extensão, mais de 30 portos organizados e inúmeros terminais de uso privativo. Além disso, possuímos uma forte concentração costeira dos setores produtivos e consumidor, com 80% da população vivendo entre as regiões litorâneas e a até 200 km da costa.
Com esses fatores, a navegação costeira, ou de cabotagem, é seguramente o método mais rápido, economicamente vantajoso e sustentável para corrigirmos o antigo e indesejável desbalanceamento da matriz de transporte no Brasil. A grande greve dos caminhoneiros, em maio de 2018, só evidenciou a gravidade desse problema: não há mais como o país depender de um único modelo de escoamento e transporte de cargas sob o risco de um novo colapso. Enquanto isso, nosso mar está inteiramente disponível, e sua utilização não requer dispêndios por parte da sociedade. Todavia há entraves que freiam o aumento da cabotagem, como o excesso de burocracia, assim como falhas na integração do modal com as rodovias. Em contrapartida, o segmento vem crescendo de forma contínua. Durante a greve, muitas empresas descobriram que a cabotagem é competitiva e aderente a todos os tipos e tamanhos de negócios. A tendência é vermos esse serviço sendo ampliado cada vez mais.
O fato é que crescimento e economias azuis estão no centro das atenções e o Brasil pode aumentar seu protagonismo no aproveitamento da economia do mar. Tributos não nos faltam. Mas aproveitá-los exigirá disciplina e uma agenda pública e privada de atuação conjunta. Afinal, como todas as grandes oportunidades, a exploração dos nossos mares não é isenta de desafios e responsabilidades.
Acredito que adotar uma visão holística da exploração de nossos recursos marítimos, sempre buscando encontrar benefícios mútuos, é o rumo a ser seguido por países com águas territoriais relevantes, como é o caso do Brasil. Mas é preciso fomentar o conhecimento, essencial para conscientizar os tomadores de decisão e sociedade em geral da importância da economia do mar para o crescimento do país. Se navegar é preciso, sozinhos não avançamos.
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