Em um mundo cada vez mais consciente do impacto ambiental de suas atividades, a redução da emissão de carbono tornou-se um objetivo central para nações e corporações.
No Brasil, onde o setor de transportes responde por uma parcela significativa das emissões de gases de efeito estufa (GEE), a busca por alternativas logísticas mais limpas é urgente. Nesse cenário, a cabotagem — a navegação entre portos de um mesmo país — emerge como uma solução estratégica, eficiente e de alto impacto para a redução da pegada de carbono.
A troca do modal rodoviário pelo modal marítimo não é apenas uma mudança operacional, mas um passo fundamental em direção a uma cadeia de suprimentos mais sustentável.
Estudos e operações reais demonstram que essa transição pode diminuir em até 89% as emissões de CO₂, alinhando o desenvolvimento econômico do país às metas ambientais globais e às práticas de ESG (Environmental, Social, and Governance) que o mercado moderno exige.
Para entender a vantagem da cabotagem, é fundamental dimensionar o peso do setor de transportes na emissão de carbono.
Segundo a Associação Nacional de Pesquisa e Ensino em Transportes (Anpet), o setor é responsável por aproximadamente 48% de todas as emissões de CO₂ no Brasil. O grande vilão dessa estatística é o modal rodoviário, que concentra cerca de 65% de toda a carga movimentada no país.
Essa dependência excessiva das rodovias não só sobrecarrega a infraestrutura e eleva os custos logísticos — que chegam a representar mais de 18% do PIB nacional —, mas também gera um passivo ambiental gigantesco.
Projeções indicam que, sem a adoção de medidas de mitigação, o transporte inter-regional de cargas poderá emitir até 111 milhões de toneladas de CO₂ em 2025. É um número que reforça a necessidade de diversificar a matriz de transportes, e a extensa costa brasileira, com mais de 8.000 quilômetros navegáveis, aponta para o mar como o caminho mais lógico e sustentável.
A prova da eficiência da cabotagem na redução de emissões é concreta e mensurável. Um levantamento exclusivo desenvolvido pela Norcoast, empresa brasileira de navegação costeira, quantificou essa vantagem em operações realizadas ao longo de 2024 para uma multinacional do setor químico.
O estudo, que teve como ponto de partida o porto de Suape (PE) e destinos em Manaus (AM), Santos (SP) e Paranaguá (PR), aplicou a metodologia internacional do GHG Protocol para comparar os modais.
Os resultados são expressivos: a movimentação de 7.862 toneladas de carga via cabotagem gerou 369,2 toneladas de CO₂. Caso o mesmo volume tivesse sido transportado por caminhões, a emissão saltaria para 3.374,3 toneladas de CO₂. A redução de 89% representa uma economia de mais de 3.000 toneladas de dióxido de carbono lançadas na atmosfera, um testemunho do papel estratégico do modal.
“A cabotagem se destaca como uma alternativa positiva para a redução da emissão de CO₂ e outros pontos abordados pela agenda ESG. Os navios são projetados para potencializar a eficiência energética, incorporando tecnologias e inovações que minimizem o consumo de combustível por tonelada transportada”, afirma Stephano Galvão, Diretor de Operações da Norcoast.
Embora o benefício ambiental seja o mais proeminente, as vantagens da cabotagem se estendem por toda a cadeia logística, gerando valor para empresas, governo e a sociedade.
Em longas distâncias, a cabotagem é consistentemente mais econômica que o rodoviário, com fretes que podem ser até 20% inferiores. Há também uma redução expressiva nos custos de seguro, dada a baixa incidência de avarias, sinistros e roubos.
O transporte aquaviário oferece maior segurança para a carga, eliminando riscos associados às rodovias. Com rotas monitoradas e alta pontualidade nas entregas, as empresas ganham em previsibilidade e confiabilidade para seu planejamento logístico.
Um único navio pode transportar o equivalente a centenas de caminhões, otimizando operações de grande volume e permitindo ganhos de escala.
A migração de cargas para o mar alivia o tráfego nas estradas, diminuindo o número de acidentes e os custos com manutenção da malha rodoviária.
A cabotagem conecta os principais centros produtores e consumidores do litoral, desde o Sul até o Norte, promovendo a integração territorial e fortalecendo a governança logística do país.
Investir na cabotagem contribui diretamente para o avanço dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, especialmente nas metas relacionadas à ação climática, infraestrutura resiliente e desenvolvimento sustentável.
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Apesar do enorme potencial, a cabotagem ainda enfrenta desafios para sua plena expansão no Brasil. A burocracia portuária, a carga tributária sobre o combustível dos navios e a necessidade de uma melhor infraestrutura de integração multimodal são alguns dos entraves históricos.
Para endereçar essas questões e destravar o crescimento do setor, foi instituído o programa “BR do Mar”. A iniciativa do Governo Federal busca modernizar a legislação, incentivar a concorrência e ampliar a frota disponível, permitindo, por exemplo, maior flexibilidade no afretamento de embarcações estrangeiras. O objetivo é claro: aumentar a oferta, reduzir custos e tornar a cabotagem mais competitiva.
Com o “BR do Mar”, a expectativa é que a participação do modal na matriz logística, hoje em torno de 11%, cresça de forma consistente. Um aumento de 60% no transporte de contêineres por cabotagem, por exemplo, poderia representar uma redução anual de mais de 530 mil toneladas de CO₂ equivalente.
A navegação costeira, portanto, não é apenas uma alternativa, mas a resposta mais inteligente para um Brasil que precisa crescer de forma sustentável.
Ao abraçar suas “estradas que vêm do mar”, o país pode não apenas reduzir drasticamente suas emissões de carbono, mas também construir uma logística mais segura, econômica e resiliente para o futuro.
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