A crescente necessidade por profissionais marítimos, impulsionada pela expansão do setor da cabotagem e offshore, configura um cenário promissor para jovens com espírito aventureiro em busca de uma carreira dinâmica. A oportunidade de conhecer diferentes lugares e de vivenciar experiências únicas a bordo de embarcações é um grande atrativo.
Foi essa a carreira que a Comandante Daisy Lima escolheu em 1999. Em sua trajetória, enfrentou o preconceito em uma profissão predominantemente masculina e se tornou a primeira mulher a assumir o cargo de comandante na empresa Aliança Navegação e Logística, em 2014. É uma entusiasta de seu ofício:
“A profissão do mar é muito interessante e está em expansão no nosso país. A gente tem um potencial gigante, tem empresas vindo para o Brasil, investindo para começar suas operações aqui. Nosso país tem riquezas muito grandes, e o mar é o melhor jeito de exportar isso em quantidade, em escala grande”, afirma ela.
Porém, a comandante ressalta que, para se tornar um marítimo, é preciso ter resiliência e paciência para ficar, por exemplo, mais de um mês longe de casa.
De acordo com Marcio Arany, CEO da Log-In Logística Integrada, há realmente muitas oportunidades para os marítimos. “É uma profissão atrativa que remunera bem, principalmente se compararmos os recém formados na Marinha e os novos profissionais que saem das universidades para o mercado de trabalho. Mas o desenho de trabalho é diferente. Você não vai para casa todo fim de tarde. Ela tem uma peculiaridade. Na cabotagem, o funcionário fica mais ou menos 45 dias embarcado e 45 dias em casa, e assim sucessivamente”, afirma o executivo.
Para Vinicius Beloni, marítimo da Log-In, essa escala diferenciada é justamente um dos atrativos de seu trabalho. “No ano, a gente passa seis meses trabalhando e os outros seis em casa. E é realmente folga. Não tem essa preocupação de que alguém vai me ligar para eu ter que embarcar ou vou ter que fazer algum trabalho em terra ou algum complemento de trabalho em terra”, afirma Beloni.
Mas não é só isso. O marítimo destaca ainda como vantagens poder contemplar um céu estrelado ou avistar baleias em Abrolhos, na Bahia, por exemplo. “Lembro da primeira vez que saí do Porto de Navegantes, olhei para cima e vi aquele céu todo estrelado. É uma imagem tão bonita que a gente não consegue ver na cidade por causa da poluição visual, da iluminação. Fiquei impressionado”, recorda ele.
Oportunidades
Arany ressalta que há vários mercados que contratam os marítimos, como as empresas de cabotagem, além do setor de apoio marítimo, que é o offshore. “Trata-se de um mercado que só cresce, e que não para. Eu duvido que um marítimo dedicado fique desempregado”, enfatiza o CEO da Log-In.
Para o executivo, trata-se de uma “via de muitas oportunidades”. “Uma pessoa que começa como marítimo vai ter, desde cedo, uma remuneração muito boa para um recém-formado. Ele vai estar exposto a muitas coisas para o seu amadurecimento profissional. E vai abrir um campo de oportunidades, inclusive para trabalhar em escritório. Há marítimos que se tornam gerente de operações depois”, exemplifica Arany.
Adriano Martins, gerente de RH de Tripulação na Aliança Navegação e Logística, concorda com o CEO da Log-In. Na avaliação dele, trata-se de um setor muito promissor e aquecido, com uma remuneração vantajosa. “Há várias empresas em atuação no Brasil, todas grandes empresas. São empresas grandes e sólidas. Então, a pessoa pode começar a carreira e se aposentar na mesma empresa, se ela quiser”, diz o profissional de Recursos Humanos.
Entidades pressionam por mais vagas de oficiais da Marinha
Um estudo desenvolvido pela Fundação Vanzolini e pelo Centro de Inovação em Logística e Infraestrutura Portuária da USP (Cilip) indica que poderá haver déficit de oficiais da Marinha Mercante em cinco anos. Em meio a um cenário de tendência de crescimento do mercado de navegação no Brasil, várias entidades mostram preocupação diante da projeção revelada.
“É o pior dos mundos, pois não poderemos aumentar a frota e, portanto, a oferta de serviço de cabotagem para a sociedade brasileira. Soluções paliativas deverão ser buscadas, como a a recriação dos cursos de ASON/ASOM que tem duração menor e podem evitar que o problema seja tão grave, mas certamente haverá dificuldade de tripular os navios da cabotagem com marítimos brasileiros”, afirma o diretor-executivo da Abac (Associação Brasileira de Armadores de Cabotagem), Luís Fernando Resano.
Outra medida para ajudar a mitigar o problema, de acordo com Resano, seria diminuir o número de marítimos brasileiros em navios estrangeiros, como preconiza a Resolução 06 do Conselho Nacional de Imigração.
No estudo do Cilip, projeta-se ser necessário formar 4 mil oficiais até 2030, o que demandaria mais que duplicar o número de vagas anuais disponibilizadas atualmente. O trabalho foi encomendado pela Abac e pelo Sindicato Nacional das Empresas de Navegação Marítima (Syndarma).
No Brasil, a formação dos oficiais de Marinha Mercante é de responsabilidade da Marinha (leia mais abaixo), que seleciona e prepara os candidatos em suas Escolas de Formação de Oficiais de Marinha Mercante (EFOMM), o Ciaga (Rio de Janeiro-RJ) e o Ciaba (Belém-PA). Ao longo do tempo, o número de vagas oferecidas pela Marinha nestas escolas tem variado em função da situação econômica do setor, o que traz problemas de oferta de oficiais em períodos de crescimento.
“A formação é restrita a essas duas escolas. Poderiam ter outras, autorizadas e gerenciadas pela Marinha. Dessa forma, as escolas poderiam ter mais capacidade de formação. Há várias soluções possíveis”, ressalta Marcio Arany.
De acordo com o CEO da Log-In, não só há um número pequeno de formandos para o mercado, como também há muita desistência de se ficar embarcado com o passar dos anos. “O profissional continua trabalhando no entorno, mas no escritório. E essas duas coisas juntas acabam gerando déficit de mão de obra. É preciso aumentar a capacidade de formação”, afirma ele.
Como se tornar oficial da Marinha Mercante?
Para se tornar oficial da Marinha Mercante o caminho é entrar na EFOMM — a Escola de Formação de Oficiais da Marinha Mercante, que forma os oficiais de náutica e máquinas que comandam os navios mercantes brasileiros. O ingresso é feito via processo seletivo anual.
Na EFOMM são formados oficiais em duas opções de curso: o de náutica e o de máquinas. Tanto no curso de náutica quanto no de máquinas, os alunos estudam na escola em regime de internato durante três anos.
O curso se divide em dois períodos, durante oito semestres:
As atividades de ensino são desenvolvidas nos Centros de Instrução Almirante Graça Aranha (CIAGA) e Almirante Braz de Aguiar (CIABA).
Estágio
Após o término do terceiro ano, o aluno realizará, obrigatoriamente, o Estágio de Praticante, denominado Programa de Estágio (PREST), a bordo de embarcações mercantes utilizadas na navegação marítima e no apoio marítimo, exclusivamente em empresas indicadas pelos Centros de Instrução.
Ao terminar o curso, o aluno será declarado bacharel em Ciências Náuticas (curso de nível superior) e passará a integrar o quadro de oficiais da reserva não remunerada da Marinha do Brasil, no posto de segundo tenente.
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