A época de estiagem não é uma novidade no Amazonas. Todos os anos, nesta época do ano, há uma redução pluviométrica, com consequente seca e redução do volume de água nos rios da região, que impacta fortemente a vida dos moradores e das empresas. Mas 2023 está trazendo uma vazante recorde, com o fenômeno do El Niño que tanto transtorno está causando no Sul do Brasil. Segundo o Governo do Estado da Amazônia, o Amazonas deverá registrar este ano uma vazante maior do que a de 2010, a mais drástica de todos os tempos. Os dados são de que a estiagem deverá se alongar até maio de 2024, com ápice em outubro. Para o abastecimento do grande centro logístico que se constitui a região de Manaus, o problema maior, por enquanto, acontece na enseada do Rio Madeira.
As empresas de navegação associadas a ABAC – Mercosul, Aliança e LogIn -, que possuem linhas regulares para atender a zona produtora da Amazônia e a comunidade, já começaram a sentir os impactos da seca. São esses navios que permitem o escoamento da produção e mantém o abastecimento desta região com insumos básicos para toda a população e para a indústria local. Nos outros anos, o problema começava a ser sentido em outubro. Este ano começou.
As empresas apontam que a seca poderá impactar a navegação em 50% ou seja, 50% do que deveria ser transportado deixará de ser durante este período. No pior cenário, em função da segurança, não será possível a navegação pelo Rio Amazonas. No ano passado, essa redução foi, em média, de 40%. Os produtos que sofrem mais impacto são os mais pesados, como alimentos (arroz, congelados e resfriados), cimento, metais, cerâmica, porcelanato e fertilizantes.
A crise atinge a população, que fica desabastecida, com aumento direto do preço dos produtos, pela escassez e por aumento no frete. É impactada, ainda, a Zona Franca de Manaus, que não consegue escoar seus produtos, o que, dependendo da duração da crise, pode causar desabastecimento no mercado no Sul e Sudeste, em especial no “Black Friday”.
Hoje o Canal do Panamá sofre problema semelhante, mas consegue resolver, em parte, com escoamento parcial das cargas por trem, até o outro extremo, e o navio passando pelo canal, aliviado. Essa estrutura é inexistente na região de Amazonas. O último porto antes de Manaus fica a sete dias de distância. Então, fica impossível para as empresas preverem qual a tonelagem a ser colocada nos navios que possa ser escoada sem problemas de calado pelos rios da região.
Um Comitê de Crise Hídrica foi criado pelo Governo Federal, que colocou a ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico) como responsável por resolver o problema. Reuniões têm acontecido para definir ações prioritárias. É possível que seja decretada Emergência Hídrica, para que decisões mais urgentes sejam tomadas em tempo. Entretanto apesar de claros indícios de que teremos um período muito crítico, a Marinha opta por indicar que está dentro da normalidade e que aguarda atingir o ponto crítico.
A seca anual é um fenômeno natural, mas problemas graves como o garimpo ilegal, dragagens equivocadas no Rio Madeira (ou, na maioria das vezes, dragagens inexistentes) e falta de planejamento por parte do Governo fazem com que a situação se torne insustentável.
Rua São José, 40 - 3º andar
CEP 20010-020 – Rio de Janeiro – RJ
Tel: 21 3231-9065
abac@abac-br.org.br
LinkedIn
Patrícia Nogueira / Ana Salazar
Tels: 21 3114-0699 / 98302-6967
patricia.nogueira@argumentogi.com.br
© 2024 ABAC - Associação Brasileira de Armadores de Cabotagem